“Musas Praguejadoras da Literatura” é o nome do painel que abre a 5ª edição da Festa Literária de Santa Maria. O título não podia ser mais adequado para receber a convidada da conversa: a renomada escritora cearense Ana Miranda. A violência colonial, o massacre de povos indígenas, a escravização de povos negros, a destruição da fauna e da flora brasileiras; a diversidade, as lutas e as negociações culturais estão presentes desde a primeira obra da autora, em 1978. A professora Raquel Trentin, uma das organizadoras da Flism, media a conversa com Ana Miranda hoje, às 19h, que também participa de uma sessão de autógrafos em seguida, às 20h.
Nascida em Fortaleza, Ana Miranda, que também tem alguns trabalhos como atriz, se tornou um dos principais nomes do romance histórico no Brasil, e é autora de sucessos da literatura como “Boca do Inferno“, de 1989, que tem como protagonista o poeta Gregório de Matos. O romance teve grande repercussão, foi traduzido para vários idiomas e a rendeu o Prêmio Jabuti, em 1990. Outro sucesso foi “Desmundo“, que virou filme em 2002. Ana também conquistou o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Ceará, em 2018.
Augusto dos Anjos, Gonçalves Dias, José de Alencar, Clarice Lispector e Xica da Silva são outras figuras históricas que viraram personagens literários nas obras da cearense, transportando os leitores para contextos fundamentais da história do Brasil. As mulheres ganham protagonismo e narram a maioria das histórias de Ana Miranda.
CONEXÃO FORTALEZA X SANTA MARIA
A escritora menciona que há tempos não conversa com leitores, mas espera muito do público de Santa Maria.
– Quem sai de casa para ouvir uma conversa sobre literatura já e por si só uma pessoa especial. Acho que vai haver uma boa integração, porque conversando com a professora Raquel Trentin tive a impressão de que ela sabe mais sobre os meus livros do que eu mesma. Imagino que a Feira Literária de Santa Maria deve ser aconchegante e de alto nível intelectual. – comenta Ana Miranda.
Ela elenca uma série de elementos que aprecia no Rio Grande do Sul: a música e dança, as araucárias, o chimarrão, os ponchos, o clima, as hortênsias de Gramado, o sotaque e a gentileza das pessoas. Ana Miranda conta que já esteve no Estado em outras ocasiões e sempre se sentiu bem. – Numa viagem dessas de Fortaleza até Santa Maria você se dá conta da imensidão e diversidade do Brasil. E Santa Maria deve ser motivo de muito orgulho para os moradores, ser uma cidade universitária, aqui foi a primeira vez que vi fotos de uma Universidade entre os pontos turísticos – destaca a escritora.
A professora da UFSM Raquel Trentin, que já mediou conversa com o autor Ignácio de Loyola Lopes Brandão na Flism, em 2019, comanda o painel com “Musas Praguejadoras da Literatura” com Ana Miranda. Foto: Divulgação
LITERATURA EM MOVIMENTO
Sobre os projetos futuros, que também devem ser temas do painel de hoje na Flism, Ana Miranda conta que está trabalhando muito e o primeiro dos projetos é um livro com desenhos que ela mesma fez durante a vida e formam uma espécie de “autobiografia onírica”. A autora escreve crônicas semanais participativas no jornal O Povo, e também está trabalhando em um livro de conversas com o músico Egberto Gismonti e no livro da irmã, Marlui Miranda:– Ela trabalha com música indígena desde os anos 70 e tem cadernos de viagens impressionantes. Ela testemunhou muita derrubada ilegal de matas e muita violência contra povos indígenas, mas conhece bem toda a beleza e grandeza contidas nesse universo. Estou ajudando-a na adaptação desses cadernos e na tese de Musicologia realizada na USP.
Para Ana Miranda, o Brasil sempre inspirou, mas jamais estimulou escritores e são raríssimos os autores de literatura que vivem de direitos autorais:– Os escritores brasileiros buscam estímulo em seus sonhos e em sua própria paixão, no fascínio pelos livros que leem.Escrevemos porque lemos e ficamos tão encantados com os mistérios da ficção que sentimos necessidade de fazer parte disso. O trabalho com a palavra é um grande construtor da realização pessoal, ainda que o texto fique na gaveta. Sempre ele é um edifício dentro de nós ou um monumento à existência humana – finaliza.
Agende-se:
O que – Painel “Musas Praguejadoras da Literatura” com Ana MirandaQuando – Hoje, dia 5, às 19hOnde – na Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria (Cesma)Quanto – De graça
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